Turismo com propósito: como a Jornada de Inovação Bancorbrás Social fortalece ONGs e territórios

Mariana Moraes • 1 de julho de 2025

Nem sempre o turismo é sinônimo de pertencimento ou cuidado. Em muitos lugares, ele ainda carrega traços de exploração e desigualdade. Mas e se, no lugar disso, o turismo fosse uma ponte entre sonhos, saberes e proteção da natureza?


Foi com essa proposta que o Instituto Bancorbrás, em parceria com a Phomenta, criou a Jornada de Inovação Bancorbrás Social — uma iniciativa gratuita que apoiou organizações sociais de diferentes regiões do Brasil a desenvolverem ideias de turismo sustentável e comunitário.


O início da jornada


O projeto foi pensado para apoiar as organizações desde o início da ideia até os primeiros testes em campo. Tudo começou com uma chamada nacional que mobilizou mais de 200 OSCs interessadas.


Dessas, 10 foram selecionadas para um primeiro módulo de formação, em que trocaram sobre inovação social, escuta ativa e construção de soluções com base nas realidades locais.


Depois, cinco organizações foram escolhidas para seguir na jornada. Cada uma recebeu R$ 2 mil em capital semente para dar o primeiro passo na prototipação de suas ideias. Foram meses de mentorias, encontros e testes práticos com o apoio técnico da equipe da Phomenta.


Em dezembro de 2024, aconteceu o evento de encerramento, um encontro online em que as cinco organizações apresentaram seus protótipos, aprendizados e planos futuros.

As cinco iniciativas que chegaram até o fim


Durante o primeiro ano do programa, cada organização trabalhou para tirar do papel ideias que conectassem turismo e impacto social de maneira verdadeira e respeitosa:


  • Despertar Trancoso (BA) — Com o projeto Origens do Brasil, a organização capacitou jovens de Trancoso a se tornarem contadores de histórias e guias locais, criando roteiros turísticos que resgatam a cultura, a identidade e a história da região. Além de novos produtos turísticos, o projeto fortaleceu o sentimento de pertencimento e empoderamento na comunidade.

  • Centro Cidadania (PB) — Com o projeto Vem Turistar na Serra do Teixeira, a iniciativa desenvolveu um roteiro de turismo rural sustentável na microrregião do Sertão paraibano, valorizando a gastronomia, a cultura local e as aventuras em meio à natureza. O projeto ainda impulsiona a geração de renda com a criação de uma plataforma de qualificação profissional para jovens da região.

  • Instituto Juruá (AM) — No coração da Amazônia, o Conexões Amazônicas propõe vivências que unem o ecoturismo, o turismo científico e o turismo comunitário, fortalecendo a conservação ambiental e a economia de comunidades ribeirinhas. O projeto nasce do desejo dos próprios moradores de compartilhar seus saberes e tradições de forma autêntica e sustentável.

  • Fábrica dos Sonhos (MG) — Criadora do Turismo dos Sonhos, que aposta no turismo afetivo e comunitário na Serra da Mantiqueira.

  • SPVS (PR) — Idealizadora do projeto Reconecta Guaricica, que fortalece o turismo científico e educativo na Mata Atlântica paranaense.

Entre essas cinco iniciativas finalistas, duas foram selecionadas para receber o aporte final de R$ 45 mil cada, como reconhecimento pelo potencial de impacto e inovação: a Fábrica dos Sonhos e a SPVS.


Turismo com afeto e raízes


Na região da Serra da Mantiqueira, onde o turismo muitas vezes é voltado apenas para o consumo e pouco conecta com quem vive ali, a Fábrica dos Sonhos decidiu fazer diferente. A organização propôs o “turismo afetivo”, construído com a comunidade e com foco em vivências reais, respeitosas e transformadoras.


“Aqui trabalhamos resgatando sonhos e inspirando a os realizar, e ter esse olhar afetivo transformando o turismo que em nossa região muitas vezes é predatório e explorador em algo que a comunidade fizesse parte foi um aprendizado ímpar. Para nós foi muito rico a interação com os outros participantes, conhecendo projetos e iniciativas necessárias e que mudam a vida da população de forma simples e direta”, compartilhou Alessandra Mattos, diretora de eventos da Fábrica dos Sonhos.


Durante a jornada, a equipe fez visitas de campo, conversou com lideranças locais e aplicou formulários para mapear as melhores rotas e oportunidades do território.


Com o projeto Turismo dos Sonhos, a Fábrica dos Sonhos criou três rotas turísticas pioneiras, cocriadas com a comunidade em todas as fases. A iniciativa também atua como uma agência de turismo comunitário, conectando fazendas de café, fazendas de leite e atrações locais para fortalecer o mercado turístico regional.


Atualmente, o projeto trabalha para aprimorar a comunicação com parceiros, definir preços justos e desenvolver o Produto Mínimo Viável (MVP) das experiências, sempre buscando que o turismo gere renda sem que os moradores precisem abandonar suas raízes.


O reconhecimento pelo trabalho veio com o aporte final de R$ 45 mil, mas para a Fábrica dos Sonhos, esse valor carrega muito mais do que recursos.

“Significa que, em meio a tantas dificuldades e adversidades, fizemos um trabalho maravilhoso. Esperamos que com esse aporte nossa comunidade seja reconhecida, que o projeto seja lucrativo e que principalmente a comunidade melhore sem que os moradores precisem se mudar. Queremos melhorar vidas levando consciência, dignidade e afeto.”


Educação ambiental e inclusiva


Com mais de 40 anos de atuação, a SPVS tem longa trajetória na conservação ambiental e na educação. Há 25 anos, trabalha com atividades em reservas naturais na região de Antonina e Guaraqueçaba (PR), na Grande Reserva Mata Atlântica. A participação na Jornada foi uma oportunidade de conectar ainda mais esse trabalho ao turismo de base educativa.


Mesmo já atuando com turismo científico, a jornada trouxe aprendizados sobre como estruturar melhor essas experiências para o público.

“Durante a prototipação, um dos principais desafios foi definir qual dos nossos produtos seria o foco da jornada. Já realizamos diversas ações voltadas ao turismo científico de forma orgânica, e transformar essas experiências em algo mais estruturado e direcionado exigiu reflexão e escolhas estratégicas”, comenta a analista de relacionamento Mariana Bassouto. “As ferramentas apresentadas na jornada também representaram um desafio inicial, pois precisávamos adaptá-las à realidade de um produto que já acontece, mas que agora ganha forma com mais intenção, planejamento e foco no público do turismo científico.”


Com o projeto Reconecta Guaricica — Restaurando relações e produzindo futuro, a SPVS estruturou experiências de aprendizado nas reservas naturais, voltadas principalmente a estudantes e universidades. A iniciativa aproxima a ciência da comunidade, valoriza a conservação ambiental e impulsiona a demanda por serviços locais de maneira consciente. “O que mais nos marcou durante essa jornada foi a oportunidade de trocar experiências com instituições que atuam em diferentes biomas, todas com o propósito comum de conservar a natureza e valorizar territórios e comunidades. Essas conexões foram extremamente inspiradoras e reforçaram a importância da colaboração no fortalecimento de iniciativas ambientais.”


O aporte será usado para fortalecer a comunicação digital do projeto e melhorar a infraestrutura de acessibilidade nas reservas, garantindo uma experiência mais acolhedora e fluida para todos os visitantes. “O recurso recebido será direcionado principalmente para fortalecer nossas estratégias de comunicação voltadas a esse público, além de investimentos em acessibilidade nas Reservas, promovendo uma experiência mais fluida e inclusiva — desde o agendamento até a realização das atividades.”


A caminhada continua



A Jornada de Inovação Bancorbrás Social segue em 2025 com acompanhamento técnico às cinco organizações finalistas, visitas presenciais para as duas iniciativas vencedoras e apoio contínuo. O que começou como um programa de aceleração virou rede, troca, colaboração. E, acima de tudo, um caminho possível para um turismo que respeita, inclui e transforma.




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