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Pesquisa Phomenta: Como está a saúde mental dos gestores das ONGs

Instituto Phomenta • abr. 15, 2020

Segundo o psiquiatra Viktor Frankl, encontrar algum sentido para a vida amplia nossos horizontes na busca de  algo transcendente, o que pode atenuar sintomas e até mesmo o surgimento de alguns transtornos mentais cada vez mais presentes na sociedade, como a depressão. Para quem trabalha com impacto social, o sentido da vida fica mais claro e, não poucas vezes, impactante no sentido de trazer bem estar aos que se dispõem a fazer esse tipo atividade, o impacto social gerado é incrível.

No entanto, quando se deixa  de respeitar os nossos próprios limites, seja por exigências pessoais descabidas e danosas, como podem acontecer em pessoas perfeccionistas, seja por pressão de superiores, o equilíbrio emocional, necessário para um bom desempenho de nossas tarefas pode se romper, trazendo como consequência o desenvolvimento de transtornos mentais, tais como ansiedade, insônia, irritabilidade, humor deprimido. O quadro completo da chamada Síndrome de Burnout se instala e necessita de tratamento especializado.  Essas têm sido chamadas de “as doenças do século”, especialmente a ansiedade e a depressão. 

A saúde mental e a pandemia

Hoje, com o isolamento desencadeado pelo combate ao COVID-19, fala-se cada vez mais sobre saúde mental, antes um tabu na sociedade. Aproveitamos este momento, para trazer alguns resultados de uma pesquisa feita pela Phomenta durante os programas de aceleração social desenvolvidos em 2019 e 2020. Nessa pesquisa buscamos entender se o que sentíamos e ouvíamos durante os programas seria uma demanda real dos gestores de ONGs e que precisa ser pauta de novas discussões. 

A saúde mental dos gestores das ONGs

Há algum tempo, temos nos questionado o quanto a rotina intensa dos gestores das ONGs pode ser prejudicial a sua saúde mental. Trabalhar com pessoas em vulnerabilidade, que dependem de você, com equipes muitas vezes reduzidas que precisam dar conta das mais diversas demandas e com a incerteza do que acontecerá no mês seguinte são situações comuns no dia-a-dia de muitos líderes do terceiro setor.

Tivemos 62 respondentes da nossa pesquisa, sendo que 51 deles estavam em posição de liderança. A maior parte (67%) está na organização há mais de 5 anos. Quando questionamos se eles possuem ligação direta com a causa trabalhada, 77% afirmou que sim, essa ligação pessoal pode acrescentar um peso maior ao trabalho, potencializando a transposição das preocupações  da organização para a vida pessoal também. 

A remuneração dos gestores das ONGs

Ao serem questionados se acreditam que ganham o suficiente, 53% disse que sim e 37% que não ganha o suficiente. Dentre as principais razões para não ganhar o suficiente, estão o acúmulo de funções, a alta exigência do cargo (o grande impacto de suas decisões, trabalho em excesso, muitas responsabilidades), o desgaste pessoal e falta de reconhecimento e a preocupação de não conseguir pagar as contas pessoais, mesmo trabalhando tanto.

 

*Outros: Já ganhou mais, trabalhando menos; a diretoria não é remunerada; nunca recebeu aumento; necessidade de dedicação exclusiva; a organização não tem condições de pagar mais.

 

As maiores preocupações do gestor de uma ONG

Dentre os líderes, 40% lidera equipes com mais de 20 pessoas e as maiores preocupações são com questões financeiras (captação de recursos, gastos, orçamento), com a equipe interna (engajamento dos funcionários, alta rotatividade, clima, cooperação) e com a gestão (gestão do tempo, da equipe). 

 

*Outros: Passado, presente e futuro; falta de desafios; fazer a diferença; manutenção da imagem

 

Para 98% dos respondentes essas preocupações desencadeiam sintomas físicos, muitas vezes mais de um sintoma. Alguns deles são cansaço físico e mental (13%), insônia (11%), dores no corpo (11%) e ansiedade (11%). Dores de cabeça, irritabilidade, agitação, desânimo e estresse também foram mencionados por grande parte dos líderes. 

 

*Outros: náusea, perda de memória, palpitações, roer a unha, frio na barriga, sudorese, frustração, falta de perspectiva, solidão profunda e manchas no corpo.

 

Além dos sintomas físicos, alguns pensamentos acompanham as preocupações acima levantadas como o de não ser capaz (15%), de querer desistir (13%) e de precisar buscar novas soluções (13%). Nessas respostas vemos tanto visões otimistas de fé e de que vai melhorar, quanto visões de fracasso, desânimo e frustração. 

*Outros: preocupação, controle é uma ilusão, responsabilidade, estou fazendo errado, me aproximo da família.

Centralização e o compartilhamento com colegas

A centralização das decisões e das responsabilidades pode sobrecarregar o líder. A maioria (63%) se considera centralizador e 88% disse já ter conversado sobre suas preocupações com colegas de equipe. 

Além das preocupações acima, o excesso de trabalho também influencia na saúde mental e física de cada um. 32% afirmou trabalhar às vezes aos finais de semana, 28% muito frequentemente e 28% frequentemente. Apenas 10% disse trabalhar aos finais de semana pouquíssimas vezes. Ao serem questionados sobre o equilíbrio entre a vida pessoal e do trabalho, 36% afirmou estar em desequilíbrio, trabalhando mais do que deveria ou não conseguindo “desligar” quando chega em casa. Porém 36% afirmou ter um equilíbrio bom ou razoável e 19% estão tentando ajustar o pessoal e o profissional. 



Apesar da maioria dos respondentes possuir grandes preocupações e sintomas físicos característicos de transtornos de ansiedade e de outra natureza, quase metade nunca buscou um profissional para lidar com questões emocionais. 

Conclusões

Trouxemos aqui um panorama  das preocupações, angústias e um pouco da rotina de uma pequena amostra de gestores e outros funcionários das organizações da sociedade civil que participaram de nossos programas de aceleração social. Nosso objetivo é  o de acender uma faísca para que cada um comece a pensar sobre sua própria saúde mental e, quem sabe, se abrir para discussões e até mesmo para uma ajuda de um colega, um amigo ou um profissional da saúde.

 

Autora: Sarah Sophia Perina Sampaio

Revisão: Hugo Sampaio e Agnes Santos



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